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2 de mai. de 2010
Professor descobre que Trypanosoma cruzi transfere DNA para hospedeiro
Seminário internacional apresentou estudo inovador do professor Antonio Teixeira, além de outras pesquisas sobre Doença de Chagas
O Trypanosoma cruzi, protozoário causador da Doença de Chagas, é capaz de transferir parte de seu DNA para o organismo infectado. A descoberta desse fenômeno deve-se ao trabalho da equipe do professor Antonio Teixeira, do Laboratório Multidisciplinar de Doença de Chagas da UnB. A pesquisa, publicada pela revista Cell, motivou a realização de seminário científico internacional, nesta terça-feira, 27 de abril.
O evento reuniu pesquisadores brasileiros e estrangeiros que estudam o cinetoplasto, estrutura da célula responsável por transferir o DNA do protozoário para o hospedeiro. Ele é o primeiro de uma série de seminários e palestras organizados pelo Decanato de Pesquisa e Pós-Graduação. Segundo a decana Denise Bomtempo, “o objetivo será fortalecer a ciência, incentivar a pesquisa e levar as descobertas da UnB para outros países”.
O professor Antonio Teixeira destacou a importância de falar sobre a Doença de Chagas, principalmente no contexto brasileiro de saúde pública. “Doença de Chagas não é doença de pobre, não devemos ter vergonha de falar a respeito”, afirma. Ele apresentou os resultados de sua pesquisa iniciada há quase 50 anos.
TRANSFERÊNCIA DE DNA - Estudos anteriores traziam evidências que o Trypanosoma cruzi, protozoário causador da doença, transferia parte de seu código genético para o organismo hospedeiro. A equipe da UnB foi a primeira a descrever esse processo.
A hipótese de transferência lateral de DNA demorou para ser aceita entre a comunidade científica. Havia casos em que o paciente morria em decorrência dos sintomas da doença, como inchaço no coração, porém os médicos não encontravam traços do protozoário na área atingida. "Não havia proximidade física entre as lesões e os ninhos do parasita. Aquilo ficou tão marcado que pensamos que a doença era autoimune. Células do sistema imune destruindo fibras cardíacas", contou o professor.
Instigado com essa questão, Teixeira formulou a hipótese de transferência genética entre parasita e hospedeiro. O mistério foi desvendado quando os pesquisadores da UnB encontraram o cinetoplasto característico do Trypanosoma cruzi dentro do DNA de organismos infectados pelo protozoário. Nadjar Nitz, uma das pesquisadoras da equipe, elaborou uma técnica inovadora para localizar a presença do cinetoplasto no genoma. É uma alternativa inédita, simples e barata, desenvolvida a partir do aperfeiçoamento da técnica de PCR, que se baseia na reprodução de uma grande quantidade de genes.
Dessa forma, a equipe procurou esses traços genéticos do Trypanosoma cruzi em coelhos infectados pelo parasita e em seus filhos. O estudo comprovou a presença do cinetoplasto do protozoário nos filhotes. Ou seja, o protozoário transferiu parte de seu DNA ao organismo hospedeiro, e esses genes foram tranferidos aos descendentes, ainda que nunca tenham tido contato com o parasita. A pesquisa agora vai buscar novas formas de tratamento para a doença.
CONVIDADOS - O evento também contou com palestras de pesquisadores internacionais. A primeira palestra foi proferida pelo pesquisador Julies Lukes, da Universidade da Bohemia. Julies falou a respeito da presença do cinetoplasto em vários protozoários. A pesquisadora Nancy Sturm, da Universidade da Califórnia, expôs como a compreensão do mecanismo de processamernto do cinetoplasto pode ser útil no futuro para a cura doenças relacionadas a essa parte da célula, como a doença do sono e a leishmaniose.
A pesquisa apresentada por Juliana de Assis, da UFMG, relaciona correlacionava a resposta imunológica à Doença de Chagas e possíveis alterações no código genético. Para isso, ela usou técnica de marcadores genéticos para comparar pessoas sem nenhum sintoma com portadores da forma cardíaca da doença, o que revelou alterações no segundo caso. O resultado indica para a possibilidade de que no segundo grupo já haveria uma predisposição genética para o desenvolvimento da doença.
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